Meu objetivo com este blog é contar histórias. Algumas verdadeiras, outras fictícias, e ainda, também pessoais, porém sempre relacionadas à memória, tradição, cultura e literatura da comunidade Gay. Ao longo dos anos eu tenho lido e ouvido homens homossexuais desabafarem sobre o fato de que não se sentem parte de uma ”comunidade”. Eles descrevem sua solidão existencial, inconscientemente talvez apontando para a imagem não refletida no espelho da História e da sociedade. Muitos sequer sabem o que é, sociologicamente falando, uma comunidade, e inclusive se espantam quando se menciona a expressão ”cultura gay”, erroneamente confundida com blocos ideológicos monolíticos, nichos de mercado artístico ou de padrões de beleza, ou até mesmo preferências sexuais. A cultura gay é diversificada, e tal como sua historiografia, é disruptiva e conformista ao mesmo tempo, permeada por nuances, e ainda assim, reconhecível, com algumas continuidades trans-históricas relatadas hoje até mesmo pelos adeptos do dogma construtivista. Assim, escrevo isto tanto com propósito social quanto pessoal. Embora tenha conhecido gays que revelaram que a sua orientação sexual era apenas só mais uma característica sua, como o formato da planta do pé, para mim e alguns outros, essa é a característica que envolve identidade, sexualidade, amor e afeto, áreas da vida fundamentais da existência humana. Por fim, conforme observou Chimamanda Ngozi, ”As histórias importam. Muitas histórias importam. As histórias foram usadas para espoliar e caluniar, mas também podem ser usadas para empoderar e humanizar”. Pensando e acreditando nisso, ofereço estas histórias àqueles a quem o pioneiro Edward Carpenter concedeu uma profecia de libertação em seu poema ”Filho de Urano” (Towards Democracy) :
”Ó filho de Urano, errante ao longo dos tempos, escuro, das eras mais distantes da Terra, a mesma figura estranha e terna, cheia de graça e piedade, ainda que rejeitado e incompreendido pelos homens comuns. Querido Filho do céu – andarilho sofredor no deserto da civilização –Aproxima-se o dia em que, destas brumas de eras, tua forma, vestida de glória, reaparecerá”

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